Coinbase ❤️ Mercado Bitcoin = Será o grande duelo com a Binance?
A maior exchange dos EUA pretende comprar o Grupo 2TM. A aquisição, avaliada em US$ 2,1 bilhões, seria a maior na indústria de criptoativos.
Bom dia, galera do BCR:
A grande disputa entre as exchanges no Brasil está cada vez mais acirrada. Depois do show itinerante do Changpeng “CZ” Zhao promovendo a Binance no Brasil este mês, foi a vez da concorrente Coinbase dar um grande passo.
E que grande passo! – A suposta aquisição do Grupo 2TM, a controladora do unicórnio brasileiro Mercado Bitcoin.
De acordo com o jornal O Estadão, o acordo vem sendo discutido desde o ano passado, e será anunciado até o final de abril.
Ainda segundo O Estadão, o “plano A” era a aquisição do unicórnio mexicano Bitso, que vem atuando amplamente no Brasil. Quando as negociações pararam de avançar, o Mercado Bitcoin tornou-se o novo alvo.
Até alguns meses atrás, a especulação em torno do grupo 2TM/Mercado Bitcoin era sobre uma possível oferta pública inicial, seguindo o sucesso da listagem do Nubank na bolsa dos EUA. A velocidade com que a narrativa mudou indica que esse acordo provavelmente foi negociado de forma relativamente rápida.
O Grupo 2TM recebeu US$ 200 milhões em financiamento do Softbank Latin America Fund numa rodada de Série B em junho de 2021, e fechou a rodada com mais US$ 50 milhões em novembro. Com isso, o conglomerado ficou avaliado em US$ 2,1 bilhões.
A simples ideia de que a Coinbase pague o valor avaliado (para ser sincero, não sou especialista em fusões/aquisições e avaliações) já indica que esta seria uma das maiores aquisições na indústria de criptomoedas. É possível ver históricos e dados comparáveis no relatório de fusões e aquisições de 2022 da PwC. Em resumo, os únicos acordos maiores que este no ano passado foram fusões de SPACs (Companhias com Propósito Específico de Aquisição, conhecidas como empresas de cheques em branco) e aquisições relacionadas a hardware de mineração.
Além do Mercado Bitcoin e seus 3,2 milhões de clientes brasileiros, o grupo 2TM também controla o MeuBank (uma carteira de criptoativos e plataforma de investimentos), a MB Digital Assets (uma empresa de tokenização), a Bitrust (um serviço de custódia) e diversas outras entidades.
O grupo também andou buscando expandir para outros países da América Latina e para Portugal – onde adquiriu recentemente o controle acionário da exchange CriptoLoja.
Embora não tenhamos os detalhes do acordo, ele faz muito sentido, em diversos aspectos:
O Grupo 2TM vem se estabelecendo seguindo, em grande parte, o modelo da Coinbase.
Primeiro, cria-se uma corretora de varejo (Mercado Bitcoin) que forneça uma opção de fácil entrada e saída de novos investidores de criptomoedas, e os atraia aos montes durante os períodos de alta.
Em seguida, apresenta-se um conjunto de ofertas focadas em instituições voltadas para custódia, tokenização, etc.
O Mercado Bitcoin manteve a postura de “vamos fazer todo o possível para trabalhar com os órgãos regulamentadores” no Brasil da mesma forma que a Coinbase nos EUA. Essa postura vai de encontro ao modus operandi estilo “faça agora e peça desculpas depois” empregado por outras exchanges.
O Grupo 2TM também tem um braço focado em adesão e educação de varejo, a Blockchain Academy.
A Coinbase, que agora é uma empresa de capital aberto nos EUA, tem os recursos necessários para fazer uma aquisição desse porte. Há muito dinheiro circulando em criptomoedas, mas US$ 2 bilhões continua sendo muito dinheiro.
Independentemente da indústria, é muito mais difícil uma empresa estrangeira entrar no mercado brasileiro começando “do zero”, do que por meio de fusão e/ou aquisição. Isso se deve, em grande parte ao “custo Brasil”, que é essencialmente um imposto cobrado de empresas que operam no país, devido à corrupção, burocracia, leis trabalhistas e complexidade cultural etc. Esses custos ainda existirão independentemente da forma de entrada, mas adquirir um negócio que já tem operações, uma base de usuários e adequação de produto para o mercado (Product Market fit) no Brasil dará muito menos dor de cabeça.
O acordo também estaria alinhado com o impulso de expansão global da exchange – o qual foi anunciado com certo alarde em fevereiro.
A aquisição daria à Coinbase uma base para a empresa expandir as operações para outros lugares da América Latina. A companhia recentemente expressou sua visão do Brasil como um “importante polo tecnológico” para sua expansão na região.
Sinceramente, a Coinbase precisava fazer alguma coisa para acompanhar o avanço da Binance, depois da ofensiva do CZ pelo Brasil neste mês. Brian Armstrong e sua equipe tiveram de dar uma resposta rápida para aproveitar o cenário que foi criado, e eles têm que correr para alcançar. Além disso, as corretoras estrangeiras Crypto.com e FTX também estão aumentando sua presença no Brasil, mas a Binance – que concentra 1/3 do volume total de negociações de bitcoins no mercado brasileiro – continua na liderança. Embora seu futuro estivesse incerto há apenas algumas semanas, por causa das novas mudanças na legislação de criptomoedas que tramitam no Congresso, CZ agora tem apoio total de políticos tanto do Rio quanto de SP.
A seguir, trago uma análise da “visita de estado” do CZ neste mês e por que foi uma jogada de poder tão perspicaz da Binance. Também recomendo a leitura desta postagem do repórter do Portal do Bitcoin, Fernando Martines.
Nota: Esta análise também foi publicada no Linkedin
Regra básica no mundo cripto: Nunca aposte contra o CZ
É difícil compreender a importância da “visita de estado” de Changpeng Zhao ao Brasil na semana passada e seu anúncio de que a Binance, a maior exchange de criptomoedas do mundo, em breve entrará oficialmente no mercado brasileiro – com sua população de 214 milhões – por meio de aquisição.
Além de comparecer à conferência ETH Rio (onde foi recepcionado como um astro do rock), CZ visitou o governador de São Paulo, João Doria, o filho de Doria, João Doria Neto, líderes de regulamentação do Banco Central, e ainda recebeu a chave do cidade do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e do secretário de Desenvolvimento Econômico, Chicão Bulhões.
Ele também reuniu-se com os meios de comunicação mais influentes do país, como a Folha de S.Paulo, o jornal O Globo, Bloomberg Línea, entre outros, e respondeu a muitas perguntas difíceis.
CZ enfatizou que o Brasil, no momento, está entre os Top 10 mercados prioritários para a exchange e prometeu estabelecer uma sede no país, em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Ele também se comprometeu a contratar mais de mil funcionários no Brasil e a financiar programas de bolsas para desenvolvedores de blockchain.
E por que isso tudo importa?
Embora a Binance venha controlando, consistentemente, cerca de 1/3 do volume total de negociações de bitcoins no Brasil, ela tornou-se alvo de intenso escrutínio por parte de regulamentadores nacionais, devido ao seu status operacional extralegal.
Como atualmente não existe uma estrutura regulatória para exchanges de criptomoedas no país, a Binance (e várias outras) vem atendendo clientes brasileiros sem ser oficialmente registrada como uma entidade comercial no país (ela opera por meio de uma entidade independente chamada B Fintech).
As exchanges nacionais acusam a Binance de atuar com vantagem injusta devido a esse status extralegal e vêm tentando usar o processo legislativo (projeto de lei de registro de criptomoedas que foi aprovado na Câmara em dezembro, atualmente está no Senado e deve ser aprovado) para forçar a saída da Binance, demandando regras que exijam que todas as exchanges de criptomoedas obtenham licença do governo federal antes de começar a operar no país.
No verão passado, o diretor da Binance no Brasil renunciou repentinamente, após seis meses no cargo, quando a exchange caiu nas garras de agências regulamentadoras por todo o mundo.
Mais recentemente, a Binance também foi publicamente usada como bode expiatório em casos de alta repercussão de operadores de esquemas de pirâmides de bitcoin, muitos dos quais supostamente usaram a plataforma para lavagem de dinheiro de investidores no exterior.
Na verdade, algumas semanas atrás, parecia que os dias da Binance no Brasil estavam contados.
Mas, voltando à nossa regra básica: nunca aposte contra o CZ. Após ser rejeitado em outras jurisdições pelo mundo, ele começou sua “operação de sedução” no Brasil e o público o recebeu de braços abertos.
Foi uma jogada de poder extremamente astuta e perfeitamente cronometrada que só operadores do calibre do CZ e do SBF poderiam planejar. Acredito que este seja um momento decisivo para a Binance e para a indústria cripto no Brasil.